Um swell consistente de 5 a 7 pés na Vila e ação nos dois primeiros dias. Era o que todos torciam para a etapa brasileira do WCT - a mudança de data foi positiva e tornou mais atrativa a passagem da elite pelo território nacional.
Claro que sempre existirá crítica. "Cada parada do tour testa um aspecto diferente das habilidades de cada competidor. Bells, água gelada. Teahupoo, tubos extremos. Brasil, cocaína e putas" escreveu Lewis Samuels em sua prévia do evento. Não que o PostSurf seja referência importante - há algum tempo o blog tornou-se um pólo de negativismo, no qual informações de real interesse tornaram-se esparsas.
Mas é opinião corrente: assim como os talentos nacionais, também nossas locações são alvo de preconceito estrangeiro. Pode ser em parte culpa do conceito de Dream Tour, do final dos anos 90. Espera-se, alguns exigem, que as etapas do circuito mundial tenham apresentações perfeitas, condições épicas, locações idílicas. Qualquer coisa abaixo do melhor de todos os tempos merece esnobismo.
Pessoalmente, gosto de campeonatos em condições desafiadoras, com ondas que grande parte do público surfista prefereria não ter de enfrentar. A Vila tem sido comparada à Haleiwa e Sunset, renomadas gemas da meca dos surfe, que porém não integram mais o tour principal. São lugares onde o fator "sorte" tem influência significativa, pela extensão do line-up, correnteza, dificuldade de posicionamento.
Júlio Adler bem observou no blog da Hang Loose que nos rounds iniciais poucos competidores conseguiram duas notas boas, o que ilustra a adversidade das condições. Com poucas exceções, como os legítimos candidatos ao título mundial deste ano, Parkinson e Fanning, o que ilustra que, além de talento, a determinação é excelente remédio para a adversidade.
Lamentar faz parte, mas ondas difíceis e decepcionantes são parte do roteiro, queiram ou não - Pipeline, Bells, Teahupoo já tiveram edições bem abaixo da expectativa. O evento na Vila começou bem em tamanho de onda, para os dias finais, talvez, vale torcer por uma melhora na formação.
Uma autocrítica porém se faz necessária: a atual é a sétima edição seguida do WCT em Imbituba e o fato da duplicação da BR 101 ainda não ter sido concluída é uma vergonha para o país. Estive na Vila no sábado, paguei o pedágio, inaugurado mesmo com as obras ainda em andamento, e imagino que os estrangeiros não devem acreditar na demora em algo tão básico. Menos mal que a infraestrutura montada na praia - que é um anfiteatro natural de grandes dimensões - compensa um pouco a precariedade do acesso.
Sobre as próximas disputas, que devem reiniciar quarta ou quinta, evito prognósticos - meu desempenho no Hiscores confirma que não sirvo pra isso - mas arrisco uma observação. Como mencionou em entrevista, nas quatro edições do WCT Brasil em que Adriano de Souza competiu (2004 a 2007), ele nunca passou do round 3. Também nunca venceu Kelly Slater, nos oito confrontos levantados pelo blog (apesar da derrota na França, em 2008, ter sido discutível). E nunca venceu uma etapa do WCT.
Adriano e Joel Parkinson estão na chave superior do espelho de bateria - ou seja, se ambos avançarem podem fazer na semifinal uma revanche da decisão em Kirra, única final de Mineiro na elite. Mas antes Parko enfrenta Neco Padaratz. Neco eliminou Fred Patacchia - o melhor ranqueado dos 16 que já fizeram as malas - e pode se tornar o personagem do evento se bater também o líder. Vale lembrar que, recuperado da contusão, Neco pediu vaga da ASP para o WCT 2010.
Já Kelly Slater está na chave de baixo, a mesma de Fanning, o que significa que ambos só podem enfrentar Adriano ou Parko na grande final. KS não parece embalado, mas quem conhece sua história sabe que tudo é possível, até ele começar a vencer com as pranchas estranhas que está usando.
Fica a torcida para que Adriano quebre já neste evento os tabus que restam; e que Neco, que venceu seu primeiro WCT como convidado em 1999, continue a demonstrar na Vila que o retorno é questão de tempo.
ótimo texto, deveria ter mais destes. beijo!
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