segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A ascensão brasileira no tour mundial


Gouveia, protagonista do Busting down the door brasileiro

Integrante do circuito desde a primeira edição, em 1976, o Brasil estreou com resultados significativos em casa: nas seis edições do Waimea 5000, fizemos dois campeões - Pepê Lopes e Daniel Friedman - e quatro vices (Pepê, Ismael Miranda, Valdir Vargas e Roberto Valério). Mas no exterior, salvo a final de Pepê em Pipeline, bons resultados eram raros - além do Hawaii, alguns brasileiros aventuravam-se na Austrália e na África do Sul, mas sem a regularidade e o sucesso de seus adversários estrangeiros.

Quando o tour mundial voltou ao Brasil no Hang Loose Pro Contest 1986, após um hiato de três anos, a conquista surpreendente do então amador Sérgio Noronha (que chegou às quartas-de-final) não escondeu o desnível técnico entre brasileiros e gringos. Ficou claro que o surfe brasileiro tinha muito o que evoluir para equiparar-se ao praticado no circuito.

Porém, apenas dois anos depois, dois surfistas um tanto diferentes começaram juntos a botar o Brasil no mapa do surfe mundial, de forma definitiva. Fábio Gouveia e Flávio Padaratz não eram os únicos brasileiros no tour, mas são merecidamente reconhecidos como os responsáveis por "abrir as portas" do circuito mundial para os atletas nacionais.

Os resultados vieram surpreendentemente rápido: em 1994, terceiro ano do WCT, nada menos que oito brasileiros integraram os top 45, a elite do surfe mundial - e um nono participou de algumas etapas como alternate. O Brasil tornara-se a terceira potência do surfe mundial. Como parte de um esforço inicial em resgatar essa história, o blog publica um retrospecto superficial dos resultados de Gouveia e Teco, peças-chave no processo, entre 1988 e 1991 (antes da estréia das divisões). Um levantamento chato de fazer, afinal o tour nesse período tinha mais de 20 etapas por ano, mas segue o que foi possível apurar.

1988
Após o título mundial amador de Fábio Gouveia em Porto Rico, Gouveia e Teco foram os melhores brasileiros no Sundek Classic, em Itamambuca. Durante o evento, Alfio Lagnado anunciou que patrocinaria os dois no tour do ano seguinte - os primeiros brasileiros a competir integralmente no circuito mundial.
Fora as três etapas caseiras, alguns brasileiros chegaram ao evento principal também na França, Espanha e Austrália. Além de Gouveia e Teco, Carlos Santos e Carlos Burle vararam triagens no exterior (no Hang Loose e no Alternativa a lista é mais extensa).
No final dessa pré-estréia, ano em que Barton Lynch foi campeão mundial, os melhores resultados nacionais foram as semifinais de Victor Ribas no Alternativa, no Rio de Janeiro, e de Fábio Gouveia no MBF, em Bondi Beach; Gouveia também foi às quartas no BHP, em Newcastle.

1989
No ano em que Potter foi campeão mundial, o round 2 passou a ser a fronteira a ser vencida pelos brasileiros no tour. Nas duas etapas caseiras, Carlos Burle fez as quartas e Picuruta as oitavas-de-final no Hang Loose, na Joaquina; no Alternativa, na Barra da Tijuca, Gouveia fez a semifinal e Teco as quartas.
No exterior, os melhores resultados de Gouveia foram as quartas no Boundi Pro, em Portugal, e as oitavas no US Open, na Flórida.
Já Flávio Padaratz disputou a primeira final de um brasileiro na ASP no Gunston 500, em Durban (perdeu para Brad Gerlach), e foi às oitavas no Margaret River Masters.
Além deles, chegaram ao evento principal em etapas no estrangeiro Piu Pereira, Joca Júnior, Renato Phebo, Rodolfo Lima, Tinguinha Lima e Dadá Figueiredo (que avançou às quartas no Gotcha Pro, em Sandy Beach).
Fábio Gouveia terminou o ano em 35º e Flávio Padaratz em 43º - ambos competiram em 23 das 25 etapas; Piu Pereira competiu em 22 e ficou em 58º.

1990
No segundo ano 'full-time' no tour, Gouveia alcançou a primeira vitória, no Hang Loose, em Guarujá; fez duas quartas-de-final: Arena Surfmasters (Biarritz) no Seland (Espanha); e três oitavas: Coke (Narrabeen), Rip Curl (Hossegor) e Marui Pro (Japão).
Flávio Padaratz disputou sua segunda final, no Alternativa, no Rio (perdeu novamente para Brad Gerlach); fez duas semifinais seguidas, no Op Pro, em Huntington Beach, e no Quiksilver em Lacanau; e foi às oitavas em Margaret River, na Austrália.
No Hang Loose, além do campeão Gouveia, três brasileiros foram às oitavas: Ricardo Tatuí, Renan Rocha e Renato Phebo. Na Tríplice Coroa Havaiana, em baterias com quatro competidores, Gouveia, Teco e Taiu colocaram o Brasil entre os 32 melhores em quase todos os três eventos.
No final do ano, Tom Curren tricampeão mundial, e a dupla brasileira pela primeira vez entre os top 30: Gouveia em 25º e Teco em 28º - ambos competiram em 20 das 21 etapas. Piu participou de 19 e terminou em 53º; outros brasileiros também se tornavam assíduos do tour: Victor Ribas e Pedro Muller competiram em 17 etapas, Carlos Burle e Taiu Bueno em 14.

1991
No último ano do antigo circuito, Damien Hardman ficou com o título (seu segundo) que muitos torciam que fosse conquistado por Brad Gerlach. Foram definidos os primeiros top 45 da história e a ascensão brasileira prosseguiu.
Gouveia e Teco tiveram inícios idênticos, fazendo as oitavas em Manly Beach e no Rip Curl, em Bells Beach.
Teco depois foi às quartas no Yop Pro, nas Ilhas Reunião (em que Victor Ribas e Tinguinha chegaram às oitavas) e no Gunston 500, em Durban. Victor Ribas foi às quartas no Op Pro, em Huntington Beach.
Gouveia foi novamente às oitavas na Inglaterra e depois conquistou sua segunda vitória no tour em Biarritz - ele derrotou Teco nas quartas.
Flávio Padaratz afinal debutou no alto do pódio no Alternativa, no Rio (Vitinho chegou às oitavas). No Hang Loose, no Guarujá, Gouveia chegou à semi e Piu Pereira às oitavas.
Restava a Tríplice Coroa Havaiana, na qual Teco fez as quartas em Haleiwa e Gouveia conquistou sua terceira vitória no tour, a primeira de um brasileiro no Hawaii, no Hard Rock em Sunset Beach.
Ao final do ano, Gouveia e Teco foram os únicos brasileiros a garantir vaga no WCT inaugural do ano seguinte. Gouveia competiu em 16 das 17 etapas e terminou em 13º, primeiro brasileiro top 16; Teco competiu nas 17 e ficou em 17º.
Mas o Brasil agora não dependia apenas de uns poucos: Victor Ribas, Renan Rocha, Piu Pereira, Pedro Muller, Hemerson Paiva, Joca Júnior, Tadeu Pereira, Ricardo Tatuí, Tinguinha Lima, Fernando Graça, Felipe Dantas, Peterson Rosa - todos competiam com maior ou menor regularidade no tour, e os resultados não demorariam a aparecer, para espanto dos gringos.

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