domingo, 2 de agosto de 2009

O bom e mau Lewis Samuels

O autor de Postsurf tem uma qualidade que me parece rara: a capacidade de "leitura" imediata, simultânea e precisa do surfe alheio; de, observando, analisar com critério o que está sendo feito e emitir um juízo sobre variedade de manobras, uso da borda ou fundo da prancha, leitura da onda, estilo, pisada, habilidade de entubar, técnica.
Essa qualidade exige habilidades diversas; conhecimento, experiência, lucidez, imparcialidade. Muitos que lêem isso talvez identifiquem em si mesmos essa qualidade, corretamente ou não. Eu certamente estou fora da lista. Pode-se pensar que é imprescindível aos juízes do surfe, mas duvido. O julgamento de surfe ocorre no ambiente da competição, seguindo regras e critérios específicos. É um trabalho mais comparativo e restrito do que a análise de um determinado surfista, em todas as suas virtudes e defeitos, em diferentes condições.
No Brasil, desde os tempos da revista Inside, nos anos 90, identifico e admiro essa capacidade nos textos e comentários do Júlio Adler, porém não me ocorre mais ninguém, talvez pelo meu desconhecimento ou porque haja poucos escrevendo e opinando regularmente sobre surfe.
Lewis Samuels tem por outro lado um defeito (assim considero) que, ironicamente, lhe rende admiradores em quantidade até maior do que sua qualidade. Assim como reconhece as virtudes daqueles que admira, dedica aos que considera menos afortunados uma ironia (espirituosa, é verdade) que beira ou transborda o desprezo.
Não lembro se foi Bob Martinez ou Fred Patacchia que questionou o que há de errado em alguém competir no WCT com o único objetivo de requalificar. Para Lewis, foi a deixa perfeita, ilustra o que considera de errado no sistema, e porque manifesta tamanho menosprezo pelas limitações dos que considera medianos.
Qualquer integrante do WCT se destaca no WQS. Quem consegue fazer boa campanha no Qualifying, naturalmente, se destaca em competições de menor importância. Um bom competidor pode muito bem parecer um fenômeno perto de surfistas habituais. Um surfista regular costuma ser referência para os menos habilidosos. E mesmo um iniciante é um exemplo para quem não se arrisca nas ondas, indiferente do motivo. Aos meus olhos, todos tem algum mérito.
Nat Young escreveu em sua biografia que "um campeão mundial deve representar o ápice do desenvolvimento do surfe". Young mudou o esporte na década de 60, resultado não só de um talento singular, mas de sua interação com diversas pessoas, inclusive seus adversários - na água e no campo das idéias.
Talvez o tour se torne mesmo melhor com menos competidores, todos de fato gabaritados a concorrer pelo título; enquanto os demais buscam em outro(s) circuito(s) - de preferência mais sustentáveis que o atual WQS - o aprimoramento necessário para entrar na elite como algo mais que figurantes. Mas a "sátira do mediano" praticada por Lewis não me parece uma forma eficaz ou coerente de melhorar o sistema. Fica a dúvida se a intenção é construir ou se fazer notar, daí esta crítica.

Um comentário:

  1. Caracas...cai de paraquedas(estava pesquisando) coisa q faço regularmente e li este seu post Gustavo, sobre o Lewis.Parabéns pela sua linha de excelente raciocinio. Sou escriba, mas ñ me acho assim tão bom.Suas words, servem p/mim e muitos por aí.Aloha e boas ondas sempre.
    Abçs, castro pereira

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