terça-feira, 6 de abril de 2010
Relator crítico do tour
Foto do Diário dos Sinos
"No início foi uma idéia interessante, todos os tops da ASP eram analisados um a um pelo maior especialista no assunto...". Não, não se trata do PowerRankings de Samuels ou da Surfline. O texto de Júlio Adler na revista Inside de 1997 refere-se a Derek Hynd, que antes da criação da elite - ou seja, desde a década de 80 - escrevia suas análises dos top 30.
A idéia é mesmo antiga.
Naquela edição, Júlio dividiu os top 44 em nove categorias: imperdoáveis, influentes, casca grossa, farsantes, operários, habilidosos, osso duro, talentosos e promessas. Rótulos que serviriam para classificar os tops de hoje, prova de que certas boas idéias não se desgastam com o tempo. A crítica é escrita ao estilo do dono, sem economia de palavras, sem muita atenção à forma - pois o conteúdo é que importa - mas com muita convicção. E com lucidez, tanto na tietagem quanto no desprezo.
Para quem acompanha o circuito mesmo que por uma tela, é uma releitura (treze anos depois) divertida e surpreendente. Entre acertos e erros (até hoje acho que ele quis dizer impiedosos em vez de imperdoáveis), tem de tudo um pouco: de apostas inusitadas que vingaram - como o então estreante Daniel Wills, que de fato chegou aos top 3 no ano seguinte - a esperanças frustradas.
Há sempre um risco em fazer prognósticos.
Emitir opinião com responsabilidade não é fácil, exige embasamento. Nessas análises dos tops, é preciso ter uma boa noção de ao menos três aspectos sobre cada um: como o cara surfa e compete, claro, mas também um pouco de sua história de vida e do momento por que passa. Senão apenas se repercute ou reedita o que já foi dito ou escrito, e que nem novidade é. Ou pior: se adota a emoção (ou preconceito) como bússola, no lugar da razão.
Para ser bom crítico/jornalista do circuito mundial, além de vocação precisa ver muita bateria, buscar informação em primeira mão. Naquela matéria de 1997, Júlio gasta uns tantos parágrafos contabilizando os eventos que assistiu - inclusive para reconhecer o quanto ele não viu.
E convenhamos, assistir campeonato consome tempo e esforço nada desprezíveis. Este blog tem quase quatro anos de existência e é focado exclusivamente em competições profissionais de surfe, por isso afirmo com convicção: para acompanhar qualquer circuito com a seriedade necessária para criticar, ou se ganha para isso ou se tem a vida ganha.
Este ano o autor do Goiabada foi pela primeira vez na vida a Bells Beach, pelo que entendi a serviço de um periódico nacional. Excelente investimento para qualquer publicação, mas reconheçamos, por melhor que seja o material do Júlio na revista, em impressos o espaço é limitado - uma cobertura de poucas páginas, alguns artigos meses depois do evento. Que desperdício.
Ainda bem que inventaram esse tal de blog.
Os relatos de Júlio em seu diário dos sinos tem a qualidade de nos colocar no palanque, trocando impressões com os conterrâneos, arriscando diálogos com Pottz e Domma, cavando informações com Renato Hickel, admirando lendas vivas como Curren e Occy. Qualquer texto impresso no futuro pode ser considerado rendimento extra - sua presença em Bells já se justifica somente com o diário.
A chuva de comentários - muitos de Portugal, onde suspeito que o fã clube do Goiabada seja maior do que no Brasil - nos leva a concluir que assistir campeonato de fato é bom, mas com alguém que legende os acontecimentos com conhecimento de causa fica bem melhor. Quem eventualmente troca o webcast pela praia conhece essa abstinência de contexto: sem espelho de bateria, ranking, notas ao vivo, replay, comentários e tudo o mais que vem pela tela, acompanhar o que se passa é muitas vezes um esforço vão.
Com um bom webcast e um Júlio comentando, no entanto... A conclusão pode parecer exagerada, mas encontra eco em muitos comentários e por isso digo que não é: ter um observador como ele acompanhando o circuito integralmente é (ou seria?) muito positivo para o surfe brasileiro. Tomara que continue.
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Puxa vida,
ResponderExcluirganhei o dia!
Vai um abrazzo franco e terno
Obrigado
Julio
os elogios só pecam por defeito. o júlio é mesmo o maior (o nick carrol que se cuide).
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