quinta-feira, 19 de novembro de 2009
O retrospecto de Fábio Gouveia na ASP
Fabinho em Noronha
No final de outubro, Fábio Gouveia anunciou no blog da Hang Loose sua aposentadoria das competições. O comunicado inspirou a bela carta de Maurio Borges publicada no Alohapaziada semanas depois, e foi enfim republicado no Waves na semana passada - o portal também colocou no ar um vídeo em homenagem ao principal surfista brasileiro de sua geração. Outras devem seguir, merecidamente.
Este blog já publicou anteriormente uma breve história da ascensão brasileira no tour mundial, da qual Fábio Gouveia é protagonista. Após a inédita conquista do título mundial amador de 1988, em Porto Rico, Gouveia começou a competir integralmente no tour mundial, junto com Flávio Padaratz (e também Piu Pereira), em 1989. A partir de então o Brasil conquistou um destaque no surfe mundial do qual nunca mais abriu mão.
Em homenagem ao recém-aposentado Gouveia, segue um breve retrospecto de sua carreira na ASP, acrescida de outras conquistas que foi possível rastrear.
Fábio Gouveia competiu em eventos profissionais por 22 anos - começou em 1988, ainda como amador (mas já em etapas do tour), até 2009. Após três anos seguindo integralmente o antigo circuito mundial (com cerca de 20 etapas por ano) entre 1989 e 1991, integrou os top 45 do WCT em 10 temporadas no WCT [1992-1996/1999-2003]. É um dos quatro brasileiros com maior tempo de permanência na elite, empatado com Guilherme Herdy, atrás apenas de Peterson Rosa (14), Victor Ribas (12) e Neco Padaratz (11) [Brasileiros no WCT].
Ele é recordista em vitórias no tour mundial/WCT, com quatro conquistas (o dobro de Flávio e Neco Padaratz). Todas no começo dos anos 1990:
1990 - Hang Loose Pro Contest - Guarujá/SP
1991 - Arena Surfmasters - Biarritz/França
1991 - World Cup - Sunset Beach/Hawaii
1992 - Marui Pro - Chiba/Japão
Alcançou também dois vice-campeonatos, na mesma década:
1993 - Alternativa Surf, Barra da Tijuca/RJ - Perdeu para Dave Macaulay
1999 - Gotcha Pro, Huntington Beach/EUA - Perdeu para Neco Padaratz
No circuito mundial, foi o primeiro brasileiro top 16 (em 1991), feito que repetiu três vezes após a criação do WCT. Classificação de Gouveia no tour ano-a-ano:
Pré-WCT
1988 - 54º | disputou 12 das 24 etapas
1989 - 35º | disputou 23 das 25 etapas
1990 - 25º | disputou 20 das 21 etapas
1991 - 13º | disputou 16 das 17 etapas
WCT
1992 - 5º | disputou todas as 11 etapas
1993 - 13º | disputou todas as 10 etapas
1994 - 12º | disputou todas as 10 etapas
1995 - 22º | disputou todas as 10 etapas
1996 - 37º | disputou todas as 14 etapas
1999 - 23º | disputou todas as 13 etapas
2000 - 24º | disputou todas as 13 etapas
2001 - 23º | disputou todas as 5 etapas
2002 - 35º | disputou todas as 12 etapas
2003 - 41º | disputou todas as 12 etapas
No World Qualifying Series, circuito em que foi campeão em 1998 e vice em 1993, conquistou 7 vitórias entre 1993 e 2002 (três delas no exterior). Até 2009, é um dos três brasileiros com maior número de vitórias no WQS (atrás de Neco Padaratz e Peterson Rosa).
1993 - Seaway Classic/2S - Maracaípe/Recife
1994 - Boundi Pro/3S - Ericeira/Portugal
1994 - Seaway Classic/2S - Maracaípe/Recife
1995 - OP Pukas Pro/4S - Zarautz/Espanha
1998 - Natural Art Pro/3S - Francês/Alagoas
1999 - Reef Brazil Classic/4S - Joaquina/Fpolis
2002 - O'Neill Surf Challenge/6S - Les Cavaliers/França
No cenário nacional, foi bicampeão brasileiro em períodos com circuitos distintos: em 1998, quando o título era definido pelas etapas brasileiras do WQS; e em 2005, pelo SuperSurf.
No SuperSurf disputou quatro finais e conquistou 2 vitórias:
2000 - Maresias/SP - Fábio Gouveia/Peterson Rosa
2000 - Vila/SC - Flávio Padaratz/Fábio Gouveia
2005 - Rosa/SC - Fábio Gouveia/Beto Fernandes
2005 - Sauípe/BA - Jano Belo/Fábio Gouveia
Um breve retrospecto cronológico:
1988
O Brasil sediou três das 24 etapas do tour; Gouveia e Teco disputaram o Mundial Amador e depois o Sundek Classic, em Itamambuca - no qual foram os melhores brasileiros, chegando ao round 2 do evento principal. Alfio Lagnado anunciou então que patrocinaria os dois no tour do ano seguinte - os primeiros brasileiros a competir integralmente no circuito mundial.
No final de 1988, Gouveia alcançou a semifinal no MBF, em Bondi Beach, e as quartas-de-final no BHP, em Newcastle.
1989
No ano de estréia de Gouveia/Teco/Piu em tempo integral no tour, Teco disputou a primeira final (no Gunston 500), porém Gouveia foi o melhor do trio no ranking - terminou em 35º. Teve três resultados de destaque: no Brasil, fez a semifinal no Alternativa, na Barra da Tijuca. No exterior, chegou às quartas em Portugal e às oitavas na Flórida.
1990
Ano de sua primeira vitória (a primeira de um brasileiro desde 1977, tempos da IPS), no Hang Loose, no Guarujá - Teco havia disputado sua segunda final no evento anterior, na Barra da Tijuca. Os dois terminariam a temporada entre os top 30: Gouveia em 25º e Teco em 28º. Gouveia fez duas quartas-de-final: em Biarritz e na Espanha; e três oitavas: Narrabeen, Hossegor e Japão. No Hawaii, em baterias com quatro competidores, Gouveia varou as triagens e foi às oitavas em Haleiwa e Pipeline.
1991
Como top 30 (os chamados back 14), Gouveia e Teco não precisavam mais disputar as triagens. Importante, pois neste ano foram selecionados os primeiros top 45 para estréia do WCT em 1992 - e os dois seriam os únicos brasileiros na lista. Gouveia e Teco tiveram inícios idênticos: oitavas em Manly e em Bells. Fabinho voltou às oitavas na Inglaterra e depois conquistou sua segunda vitória no tour, em Biarritz (após derrotar Teco nas quartas). Teco também alcançou sua primeira vitória, no Alternativa, na Barra da Tijuca. No evento seguinte - o Hang Loose, no Guarujá - Gouveia chegou à semifinal. Bastaria para chegar aos top 45, mas Fabinho ainda conquistou sua terceira vitória no tour em Sunset Beach - a primeira de um brasileiro no Hawaii - e chegou aos top 16.
1992
A estréia do WCT foi o melhor ano de Fábio Gouveia no tour: ele conquistou sua quarta e última vitória (no Japão), que somada à semifinal na Barra da Tijuca, quartas-de-final em Narrabeen e Lacanau, oitavas em Hossegor, Biarritz e Pipeline, levou-o aos top 5 do ranking.
Na estréia do WQS (em 1992 todos competiam nos dois circuitos), terminou em 7º.
1993
Pelo terceiro ano seguido, Gouveia foi o melhor brasileiro no ranking principal, entre os top 16. Graças ao vice-campeonato na Barra da Tijuca e a três quartas-de-final, no Gunston 500, no Marui e no Pipemasters.
No mesmo ano Gouveia venceu pela primeira vez uma etapa do WQS (o Seaway, em Maracaípe), circuito em que foi vice-campeão, atrás de Barton Lynch.
1994
Em sua quarta e última aparição entre os top 16, Gouveia foi pela primeira vez superado no ranking por outros brasileiros: Flávio Padaratz e Jojó de Olivença.
Seus melhores resultados foram a semifinal em Biarritz e as quartas em Lacanau e Pipeline.
No WQS, porém, foi o melhor brasileiro (em 4º), após duas vitórias (em Portugal e novamente em Maracaípe).
1995
Gouveia qualificou-se pelo próprio WCT (em 22º), mas o ritmo já era outro. O melhor brasileiro no ranking foi Victor Ribas (em 6º); Flávio Padaratz e Renan Rocha também alcançaram melhores resultados que Gouveia, que só chegou às quartas-de-final nas Ilhas Reunião.
Mas se precisasse, ele também se manteria na elite pelo WQS - terminou em 6º e venceu uma etapa na Espanha, sua quarta conquista no circuito.
1996 e 1997
Após cinco anos entre os top 45, Gouveia saiu da elite. Terminou o WCT 1996 em 37º (mesmo competindo em todas as 14 etapas) e o WQS em 28º. O foco devia estar em outro lugar, pois no ano seguinte também ficou de fora - terminou o WQS em 25º. Em 1997 ainda competiu na etapa brasileira do WCT como convidado (perdeu no round 3).
1998
Dez anos após o título mundial amador, Gouveia retornou à elite em grande estilo, com dois títulos inéditos para ele: o do WQS, com ampla vantagem sobre o vice Victor Ribas, e o brasileiro (definido pelas etapas nacionais do Qualifying). Sua única vitória no ano, porém, foi no WQS de Alagoas. Pelo WCT, competiu novamente como convidado na Barra da Tijuca e perdeu no round 2.
1999
Em seu sexto ano no WCT, Gouveia voltou a disputar uma final - foi vice-campeão em Huntington Beach, na única decisão brasileira da história; também foi às quartas em Bells e terminou o ano em 23º, requalificando-se pelo próprio WCT.
No WQS, venceu uma etapa na Joaquina e terminou em 3º no ranking (os quatro primeiros eram brasileiros). Foi a sexta vez que ficou entre os top 10 do Qualifying, em nove temporadas.
2000
Só passou do round 3 no segundo semestre, quando algumas oitavas e duas quartas-de-final (Hossegor e Trestles) lhe garantiram a reclassificação pelo próprio WCT, em 24º - fundamental, pois pouco competiu no WQS.
2000 foi também o ano de estréia do SuperSurf - Gouveia disputou duas finais (em cinco eventos) e venceu uma, terminando em 4º no ranking.
2001
No ano abreviado pelo atentado de 11 de setembro, Gouveia terminou os dois circuitos (WCT e WQS) na mesma colocação: 23º. A vaga na elite foi mantida graças a duas oitavas-de-final, na Barra da Tijuca e em Sunset Beach.
2002
Gouveia chegou às oitavas em quatro eventos - Jeffrey's Bay, Portugal (cancelado por falta de ondas), Mundaka e Pipeline - mas terminou o ano em 35º, fora da zona de classificação. No entanto, garantiu a permanência na elite pelo WQS, ao ficar em 12º no ranking, após conquistar o que seria sua última vitória no Qualifying, na França.
2003
Em seu último ano no WCT, Gouveia não passou do round 3 e terminou em 41º. Sem pontuação significativa no WQS, despediu-se da elite.
2004
Fora do tour mundial, Gouveia frequentou o pódio no Brasil Tour, circuito de acesso ao SuperSurf. Fez duas finais com o então emergente Adriano de Souza (de 17 anos) - na Seletiva Petrobras em Itamambuca e na etapa do Tombo, no Guarujá. Venceu a última.
Também competiu como convidado no WCT de Imbituba - chegou às quartas-de-final, seu último bom resultado na elite.
2005
Focado no SuperSurf, Gouveia conquistou aos 36 anos de idade o bicampeonato brasileiro, após disputar duas finais: foi campeão na praia do Rosa e vice no Sauípe.
Novamente convidado para o WCT de Imbituba, caiu na repescagem, por contusão.
2006 a 2009
Gouveia disputou o SuperSurf em 2006 e 2007.
Em 2007 foi convidado para o WCT de Imbituba e perdeu na repescagem.
Em 2008 foi novamente chamado para a etapa brasileira do WCT - sua última participação na elite - e também caiu na repescagem.
Pelas contas do blog, Fábio Gouveia competiu ao todo em 190 eventos da primeira divisão do surfe mundial entre 1988 e 2008. Além das quatro vitórias e dos dois vice-campeonatos, alcançou cinco semifinais. Segundo seu comunicado de despedida, sofreu com uma contusão nas costas em 2005/2006 (problema comum a vários surfistas) e, em 2007, chegou a conclusão de que "a fila andou". Registro aqui meu voto de felicidades ao maior nome do surfe brasileiro.
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