sexta-feira, 5 de março de 2010
A eterna polêmica do julgamento
A marca registrada de Neco é uma das rasgadas mais potentes do tour; quanto vale?
"Bias", em inglês, não tem tradução literal; pode ser definida como uma influência injusta, uma parcialidade que impede a avaliação objetiva. O equivalente mais próximo em português talvez seja preconceito, apesar das diferenças em conotação.
Esse tipo de preconceito é uma das principais explicações para resultados suspeitos em campeonatos de surfe; outra é jogo de interesses. Quando o assunto é julgamento no tour, encontra-se teorias conspiratórias para todos os gostos e ocasiões: que os juízes beneficiam os estabelecidos no tour, os já consagrados, os locais, a equipe do patrocinador do evento; ou que prejudicam brasileiros, europeus e demais suburbanos do mundo do surfe; que os resultados são manipulados para forjar ícones e rivalidades; etc.
Dois anúncios recentes - o afastamento do head judge Perry Hatchett e a adoção de novos critérios de julgamento - prenunciavam para este ano uma mudança de rumo. 2010 está sendo alardeado como histórico por motivos diversos, um ano de transição para um novo circuito. Após a abertura na Gold Coast não faltam questionamentos na internet.
De comentários genéricos - como a irregularidade (no sentido de inconstância) no julgamento, que mesmo quando não influi no desfecho cria insegurança sobre os critérios - ao debate de resultados específicos. Três baterias em especial no Quiksilver Pro 2010 abasteceram discussões nos blogs:
R2: Damien Hobgood 15.57 d. Neco Padaratz 13.73
Debate: o fato de Neco não ter recebido mais do que 6.9 por seus tubos e rasgadas surpreendeu até os compatriotas do adversário. A justificativa foi a falta de variedade no repertório, porém é questionável se o critério foi igualmente aplicado para outros surfistas.
R3: Dane Reynolds 13.57 d. Jeremy Flores 13.23
R3: Jordy Smith 15.23 d. Tiago Pires 14.77
Debate: o favorecimento dos dois "astros ascendentes" do tour na vitória sobre os europeus - o português principalmente tem histórico de derrotas questionáveis.
Polemizar resultado é rotina nos bastidores do tour (e de qualquer competição esportiva), como demonstra o seguinte levantamento do Datasurfe, superficial, abrangendo apenas os dois últimos anos. A intenção não é marcar posição sobre nenhum dos casos, apenas listar alguns resultados recentes que mais renderam debate na internet - meio pelo qual o surfe ganhou novo impulso.
Em 2009:
Rip Curl Pro Bells Beach
R2: Mick Fanning 17.16 d. Tiago Pires 15.27
Debate: Leia você mesmo no Ondas.
Quiksilver Pro France
R3: Jordy Smith 14.34 d. Heitor Alves 12.5
Debate: Outro caso de supervalorização das notas do fenômeno sul-africano; a derrota foi decisiva para que Heitor perdesse sua vaga na elite ao final do ano.
Billabong Pro Mundaka
SF: Adriano de Souza 16 d. Kelly Slater 15.93
R2: Kelly Slater 17.84 d. Jihad Khodr 15.3
Debate: Slater personifica como ninguém a questão da subjetividade no julgamento de surfe. Para alguns, seus nove títulos mundiais e 41 conquistas no tour foram acumulados com a constante supervalorização de suas ondas; para outros, suas notas nunca são altas o suficiente. Neste evento as duas teses voltaram à tona.
Billabong Pipeline Masters
QF: Dean Morrison 11 d. Damien Hobgood 10.17
Debate: Morrison não foi penalizado por puxar a cordinha de Hobgood em uma onda decisiva.
Em 2008:
Billabong Pro Teahupoo
R3: Joel Parkinson 13.06 d. Tiago Pires 10
Debate: Pires recebeu uma nota 10, mas acabou eliminado após a marcação de uma interferência de remada.
Billabong Pro Jeffrey's Bay
SF: Kelly Slater 15 d. Joel Parkinson 14.17
Debate: O confronto foi decidido com uma nota 7 que Slater recebeu em sua última onda, na qual fez apenas uma manobra (Parkinson protestou).
Boost Mobile Pro
Final: Kelly Slater 18.97 d. Taj Burrow 18.63
Debate: Slater virou o resultado com suas duas últimas ondas - em uma delas, recebeu uma nota 9 por uma onda intermediária. Taj não comentou, seus conterrâneos sim.
Quiksilver Pro France
SF: Kelly Slater 14.9 d. Adriano de Souza 13.97
Debate: A vitória sobre o brasileiro veio em um momento decisivo na campanha de Slater pelo eneacampeonato; e foi questionada, entre outros, por competidores do Pro Junior que assistiam o confronto.
Meia dúzia de polêmicas por ano não é nada, considerando que são mais de 600 baterias por temporada. Mas a lista inclui apenas os registrados até o momento no Datasurfe; o que despontou em blogs e coberturas on-line à época.
O aposentado Phil McDonald tem bagagem pra comentar, top 5 em 2005, vice nas três finais que chegou do então WCT, representante dos atletas na ASP: seu comentário sobre a saída de Perry Hatchett (que pesquei via True Surfing) culpa pelas deficiências no julgamento a falta de investimento - portanto, a ASP. Será que em um tour alternativo isso seria diferente?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário