Quando, onde e por iniciativa de quem surgiu o surfe?
Começando bem pelo início: segundo a teoria mais aceita, o homo sapiens - evolução do homo erectus - surgiu entre 100 e 200 mil anos atrás, na África; colonizou a Eurásia e a Oceania há 40 mil anos; a América há 10 mil anos; e a Polinésia há 2 mil anos.
A Polinésia é um conjunto de ilhas e arquipélagos - incluindo Hawaii, Tahiti, Samoa, Cook e Páscoa - estendidas sobre uma superfície oceânica com quase 300 mil km² de área. É lógico presumir que os homens e mulheres que colonizaram tal território desenvolveram uma relação intensa com as ondas do mar.
Principalmente se considerarmos que o oceano em questão é aquele ironicamente chamado de Pacífico.
A idéia de que os homens "andam" nas ondas desde o princípio da humanidade, por uma necessidade natural de adaptação ao meio, é bastante comum - foi sugerida por Nat Young em sua versão da História do Surfe, publicada há quase vinte anos. Naturalmente, esse hábito foi intensificado nos últimos dois mil anos pelos polinésios, legítimos pioneiros em alto-mar.
Por volta do ano 400 DC, um grupo de polinésios proveniente do Tahiti chegou ao Hawaii, onde suplantou os habitantes locais e se estabeleceu. Uma viagem oceânica de milhares de quilômetros, quase um milênio antes do período das grandes navegações européias.
No Hawaii, por volta do ano 1000, este povo desenvolveu um meio particular de andar nas ondas: em pé, sobre pranchas de madeira. O que tornou-se uma atividade importante em sua cultura, em grande parte, talvez, pelas características das ilhas em que viviam.
A sociedade havaiana era regida por um conjunto de tabus, o kapu; no surfe, haviam regras para o tipo de madeira, o tamanho das pranchas e as praias que podiam ser usadas por nobres e plebeus. Os polinésios não dominavam a escrita e sua história e cultura eram transmitidas oralmente. Cânticos registrados décadas após o contato com os ocidentais mencionam episódios envolvendo o surfe que datam desde o século 15.
Somente no final do século 18 os havaianos tiveram o primeiro contato com não-polinésios. Os navios do capitão James Cook chegaram em 1778. Cook foi morto, mas os ocidentais retornariam para ficar. Entre 1795 e 1810, com apoio dos novos aliados, Kamehameha unificou o arquipélago, criou uma monarquia e instituiu o conceito de propriedade.
Naturalmente, datam desses contatos iniciais os primeiros registros feitos por ocidentais da prática do surfe pelos havaianos - relatos e pinturas.
A partir do contato com os estrangeiros, a cultura local e o surfe entraram em declínio. O kapu foi abandonado após a morte de Kamehameha, em 1819. A chegada dos missionários no ano seguinte intensificou o processo. Andar nas ondas era uma prática ligada às antigas tradições; prejudicava o trabalho braçal; e os europeus tinham medo dos banhos de mar, por causa das seguidas pragas e do puritanismo da época.
Os ocidentais gradualmente tomaram controle do Hawaii e, em um século, a população nativa foi reduzida para um décimo da original. Em 1898, um golpe de estado pacífico fez do Hawaii uma república, presidida pelo filho de um missionário. O território eventualmente foi anexado pelos EUA e se tornaria o 50º estado norte-americano em 1959.
Nesta nova sociedade, o surfe deixou de ser um ritual sagrado, mas sobreviveu. Continuou sendo praticado principalmente em Waikiki, onde surgiriam os homens que o espalharam pelo mundo no início do século 20.
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