Nas primeiras décadas do século 20, o declínio do preconceito em relação ao mar em diversos países coincidiu com o ressurgimento do surfe no Hawaii. Gradualmente, em todo o mundo, as praias tornaram-se ambiente de lazer. O esporte das ondas naturalmente assumiu papel de destaque nesse novo contexto.
Em 1900, pegar onda com antigas pranchas havaianas de madeira era uma atividade recreativa praticada basicamente em Waikiki. Nesta praia, neste ano, George Freeth, 16 anos de idade, pai irlandês, mãe com descendência havaiana, aprendeu sozinho a surfar em pé. Tornou-se, possivelmente, o primeiro surfista de origem ocidental.
Em Waikiki, George Freeth foi apresentado pelo jornalista e incentivador do esporte Alexander Hume Ford ao famoso escritor Jack London. Do encontro surgiu uma das primeiras obras literárias sobre o surfe, que mudou a vida de Freeth. A convite de Henry Huntington, ele fez demonstrações de surfe em Redondo Beach, Califórnia, em 1907, introduzindo o esporte no continente.
Surfista, nadador, jogador de pólo aquático, Freeth ficou na Califórnia; tornou-se o primeiro salva-vidas oficial dos EUA; inventou um equipamento usado ainda hoje em salvamentos; condecorado, morreu jovem, aos 35 anos, durante uma epidemia de gripe espanhola. Foi eventualmente considerado o pai do surfe moderno.
Nesse cenário de redescobrimento do surfe, impulsionado pelos feitos de Freeth/Ford/London, um jovem de linhagem 100% havaiana despertou a atenção mundial a partir de 1911: Duke Kahanamoku, maior embaixador do esporte das ondas e do Hawaii.
Fenômeno da natação, bi-campeão olímpico, recordista mundial, Kahanamoku resgatou a auto-estima de um povo de cultura milenar, subjugado por quase um século; seu principal mérito como surfista, contudo, foi disseminar a prática do surfe em suas demonstrações pelo mundo. Em 1915, introduziu o esporte no país que se tornaria a maior potência do surfe no planeta: a Austrália.
Ao longo dos anos 1920, o surfe ganhou adeptos na Califónia. Entre eles um que revolucionou o esporte: Tom Blake. Nadador olímpico, Blake trouxe inovações notáveis, entre elas: a hollow board (prancha oca), em 1926, mesmo ano em que inaugurou Malibu; o windsurf, em 1931; a prancha de surfe com quilha, em 1934. Foi também o primeiro a fotografar ondas de dentro d'água e organizou um campeonato anual de surfe em Corona del Mar entre 1928 e 1941.
Outros que despontaram na Califórnia no mesmo período foram John Doc Ball (que seguiu os passos de Blake como fotógrafo aquático) e Woody Brown (inventor do catamarã). Ambos mudaram-se para o Hawaii, onde, junto com Rabbit Kekai e John Kelly, tornaram-se pioneiros no surfe de ondas grandes.
No período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, o surfe ganhou adeptos no Hawaii, na parte continental dos EUA, na Austrália, na África do Sul; surgiu a produção comercial de pranchas, os beach clubs, os serviços de salva-vidas, competições de surfe e de remada. A evolução das pranchas - que perderam tamanho, peso e ganharam quilha - teve ainda outro capítulo importante em 1937. Wally Froiseth, junto com Fran Heath e John Kelly, afinou (a machado) as rabetas das pranchas que usavam no Hawaii, criando as primeiras pintails - que possibilitavam andar lateralmente nas ondas.
Até então, surfar era seguir reto.
A praia onde fizeram isso foi Makaha, desbravada em 1937 por Froiseth, Kelly e George Downing. Dois anos depois, foi a vez de Sunset Beach. Abriu-se uma nova fronteira para interessados em ondas grandes: o north shore de Oahu.
Freeth, Kahanamoku, Blake, Brown, Froiseth e seus contemporâneos personificavam o surfista ideal da época: atletas, olímpicos ou quase, empreendedores, homens capazes de não apenas lidar com os difíceis equipamentos, mas de construí-los e inová-los. Veio então a Segunda Guerra Mundial, que provocou mudanças ainda mais intensas.
Outros períodos da história do surfe
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