Há quem afirme que o primeiro surfista profissional da história foi George Freeth, contratado em 1907 por Henry Huntington para fazer demonstrações de suas habilidades na Califórnia.
O atleta profissional como o conhecemos hoje, contudo, só surgiu com o advento de competições constantes, com premiação em dinheiro. E quando surgiram os campeonatos de surfe?
Antes da chegada dos ocidentais, os havaianos realizavam anualmente um festival chamado Makahiki, que durava quatro meses e incluía celebrações e atividades esportivas. Na era do surfe moderno - a partir de 1900 - houve competições anteriores a década de 50, como as anuais promovidas por Tom Blake, em Corona del Mar, dos anos 20 aos 40. Na Califórnia e na Austrália, elas se tornaram frequentes com o surgimento dos beach clubs e dos serviços de salva-vidas. As competições (assim como o surfe) desse período eram bem diferentes das atuais, e geralmente incluíam disputas de remada e tandem.
O Makaha International, a partir de 1954, consta como o primeiro campeonato da história com status de mundial - apesar de não ter premiação em dinheiro. Restrito a havaianos e californianos nas primeiras edições, tornou-se de fato internacional depois que Bud Brown mostrou filmagens de Makaha na Austrália. Midget Farrely eventualmente venceu-o em 1962.
Os campeonatos em Makaha serviram de referência para competições que surgiram dos anos 60 em diante em diversos países - Austrália, Califórnia, África do Sul e até Peru. Alguns tornaram-se históricos - como o Duke Kahanamoku Invitational (inaugurado em 1965) e o Smirnoff Pro (em 1969), no Hawaii. Outros perduram até hoje, como o Gunston 500 (atual Mr Price), criado em Durban, na África do Sul, em 1969; o Pipeline Masters, em 1971; e o Bells Beach Classic, em 1973, na Austrália.
A partir do final dos anos 60, as competições passaram a oferecer premiação em dinheiro - um dos primeiros foi o Duke Classic de 1968. A novidade deixou as disputas menos amigáveis e mais agressivas, dividindo opiniões. Enquanto alguns gradualmente abandonaram as competições, outros viram uma oportunidade de carreira - estavam lançadas as sementes do surfe profissional como é conhecido atualmente.
Os primeiros mundiais de fato - houve seis entre 1964 e 72 - ajudaram a refinar formatos de disputa e critérios de julgamento, não padronizados até então.
O fato do primeiro mundial ter sido em Manly Beach, na Austrália, comprova a potência que o país havia se tornado na modalidade. A vitória de um local - novamente Farrely - sobre os favoritos americanos Joey Cabel e Mike Doyle inaugurou uma rivalidade histórica entre os países em competições de surfe.
Peru, Califórnia (duas vezes), Porto Rico e novamente Austrália receberam os mundiais seguintes. A idéia dos campeonatos mundiais, no entanto, perdeu força; para que fosse significativo, o título teria de ser definido de forma mais elaborada. Como através de um circuito com etapas ao redor do mundo - o que enfim aconteceu em 1976.
Destes primeiros mundiais, a edição de 1966, em San Diego, Califórnia, teve grande importância histórica. Pela primeira vez, o campeão - o australiano Nat Young - foi um surfista estrangeiro ao país-sede, um marco em termos de julgamento.
Young usou uma prancha de dimensões bem menores que seus adversários - a Magic Sam, desenvolvida em parceria com Bob MacTavish e George Greenough - que lhe possibilitava surfar no crítico da onda, sem perder velocidade. Logo as pranchas diminuíram drasticamente de tamanho em todo o mundo e o nose riding deu lugar à busca pelo tubo e às manobras. Foi o início da era das pranchinhas (shortboards).
Quando os mundiais acabaram, no início dos anos 70, o surfe era praticado em todos os continentes, com campeonatos em cada vez mais países. Foram necessários quatro anos entre o último mundial, em San Diego (1972), e o primeiro circuito, com etapas no Hawaii, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia, Flórida e Brasil.
Promotor de diversos eventos no Hawaii - incluindo Smirnoff, Pipemasters e o World Cup -, Fred Hemmings esteve a frente da criação da primeira entidade mundial de surfe profissional, a IPS, em 1976. Naquele ano, a definição do primeiro título mundial foi retroativa. Somados os resultados ao final do ano, um bronzed aussie - Peter Townend - foi o primeiro campeão, mesmo sem vencer nenhuma etapa.
O surgimento da IPS coincidiu com outra revolução no esporte, imposta por jovens talentos de diferentes nacionalidades, dispostos a se afirmar na temporada havaiana - mais importante na época do que atualmente. Ian Cairns, Wayne Bartholomew, Shaun Tomson, Mark Richards e cia ficaram conhecidos como a geração Free Ride por causa do filme homônimo, com imagens do inverno de 1975 no Hawaii.
A nova geração tinha uma atitude mais agressiva nas ondas, o que sacudiu o status quo - os citados acima dominaram os pódios durante alguns anos. Em 1976, Bartholomew declarou essa nova supremacia em um artigo na revista Surfer; Bustin Down the Door desencadou uma onda de violência e localismo no inverno seguinte, contida com a intervenção de Eddie Aikau.
A IPS comandou o tour durante sete temporadas, até ser substituída pela atual ASP, em 1983, e a geração Free Ride dominou: Tomson foi campeão em 1977, Bartholomew em 78, Mark Richards nos quatro anos seguintes. Nesse período, apenas duas novas regiões ingressaram no tour: o Japão estreou com força em 1979, com quatro eventos, e Bali com uma etapa por ano a partir de 1981.
No início dos anos 70, Pat O'Neill e seu pai Jack (o mesmo dos wetsuits) inventaram a cordinha, ou leash; uma invenção simples, que no entanto custou um olho a Jack e transformou o esporte mais uma vez. Ser um exímio nadador deixou de ser pré-requisito para surfistas; e cair da prancha não significava mais perder um longo tempo recuperando-a.
Algumas inovações foram à prova no segundo circuito mundial, em 1977. A etapa inaugural - o primeiro Stubbies Classic, em Burleigh Heads - estreou um formato inovador anunciado por Peter Drouyn no final do ano anterior: o sistema homem-a-homem. Até então, as baterias tinham seis surfistas. Na segunda etapa, também na Austrália, os organizadores proibiram o uso de cordinhas nas fases finais. Foi a gota d'água para que elas se tornassem padrão entre competidores a partir do evento seguinte.
No mesmo período em que surgiu o surfe profissional, nasceram as gigantes da indústria que ajudaram a financiá-lo: Rip Curl, Quiksilver, Billabong, Gotcha. Com elas, cresceram em quantidade e qualidade as primeiras publicações especializadas no esporte, como as norte-americanas Surfer (1960) e Surfing (1964), e as australianas Australia’s Surfing World (1961) e Tracks (1970), todas ainda em circulação.
Entre o final dos anos 70 e início dos 80 também aconteceu a última grande inovação em design de pranchas: a multiplicação das quilhas. Até meados de setenta, as monoquilhas eram equipamento padrão no tour. Mark Richards popularizou as biquilhas e com elas dominou o circuito por quatro anos. Em 1981, outro australiano - Simon Anderson - consagrou as triquilhas com três vitórias no tour, entre elas Bells e Pipeline.
Em 1983, a IPS virou ASP; o tour não teve etapas no Hawaii e passou a ser encerrado na Austrália. Após uma disputa acirrada com o então veterano Barthomolew, Tom Carrol conquistou seu primeiro título mundial. Recuperado pela disciplina de uma lesão que poderia tê-lo afastado do esporte, a caminho de assinar o primeiro contrato de um milhão de dólares do surfe profissional, poucos representaram como ele o período que estava por começar.
No qual absolutamente todos os profissionais passaram a usar triquilhas.
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